SeixalJazz 2016

 

O SeixalJazz regressa de 21 a 29 de outubro com um programa de 6 noites únicas de inovação e fusão. 

A primeira noite do 17.º Festival Internacional SeixalJazz apresenta múltiplos motivos de interesse. O concerto de abertura corresponde à estreia em Portugal Continental do argentino Dino Saluzzi, grande figura da música de fusão, onde se encontram as harmonias e ritmos do jazz com as da música tradicional e as do tango com a música erudita.

Uma sonoridade de nostalgia mestiça é evidente em todas as interpretações do músico, executante de bandoneón, instrumento semelhante a uma concertina, típico da região do Rio de la Plata, no Uruguai e Argentina, e peça principal das orquestras de tango. Na arte de Salluzi, o instrumento tem a força de um fio condutor, através do qual se desenha uma música de carácter orquestral, onde pontuam a mais moderna improvisação e a ambiência sonora que também define as grandes composições do mestre argentino Astor Piazzola.

Nascido no ano de 1935 em Campo Santo, província de Salta, na Argentina, Saluzzi integrou a orquestra da rádio nacional e desenvolveu as primeiras ligações com Gato Barbieri logo na década de 50 do séc. XX. Após um percurso de afirmação como músico, na década de 1980, Dino Saluzzi inicia uma ligação com a editora ECM que tem dado frutos até à atualidade.

O mais recente trabalho do autor com esta chancela data de 2014, intitula-se “El Valle de la Infancia” e foi gravado com a mesma formação que estará presente no Seixal, da qual também fazem parte o irmão e o filho do próprio compositor. Uma viagem ao tempo e à terra da infância, acentuada pelas ligações do sangue, da memória e da identidade.

 

A atuação de Mette Henriette no SeixalJazz dá a conhecer ao público português uma das mais promissoras revelações do jazz internacional no ano de 2015. A jovem norueguesa lançou o seu primeiro trabalho através da editora ECM no último ano e cedo se percebeu estar-se perante uma intérprete inovadora onde surgem aliados os registos sonoros jazzístico e clássico.

O duplo álbum foi gravado com uma formação de trio, formato com que a saxofonista nórdica se apresenta no Fórum Cultural do Seixal. Se no álbum Henriette utilizou ainda um ensemble de 13 elementos, no SeixalJazz o desafio de levar esta música ao palco em formato de trio constitui um fator de curiosidade extra para esta atuação.

Considerada a intérprete revelação de 2015, Henriette não faz uma música influenciada pelos clássicos improvisadores do jazz americano ou pelas tendências vanguardistas do Norte da Europa, apresentando antes paisagens sonoras, com ambientes de algum modo noturnos ou minimais, lembrando a tensão rítmica mais demorada em que se prolonga a arte dos grandes compositores de bandas sonoras.

Neste sentido, as suas composições e interpretações despem-se de grandes artefactos, apresentando uma música improvisada, próxima da música de câmara ou abstrata, que convida a contemplar sem urgência uma viagem com lugar na geografia íntima de quem ouve.

 

O novo álbum de Gonçalo Marques é uma boa surpresa neste ano de 2016, ainda que mais não faça do que confirmar a qualidade daquele que é uma referência da cena jazz nacional. Ao terceiro registo discográfico, o trompetista apresenta 14 temas originais, sendo que 10 são da sua autoria, quatro de todos os membros do grupo. 

Professor no Hot Clube de Portugal, Marques alia a vertente rara de pedagogo, função que executa há quatro anos na iniciativa O SeixalJazz Vai à Escola, mas também no program de férias “Férias com Jazz”  no Centro Cultural de Belém, entre outras iniciativas, à de criador, não desistindo de interpretar e compor a sua própria música.

Depois de «Da Vida e Da Morte dos Animais», editado pela Tone of a Pitch, em 2010, Gonçalo Marques gravou o seu segundo registo com Demian Cabaud e José Pedro Coelho, entre outros, dois músicos com que vai pisar o palco do SeixalJazz. A estes dois músicos juntam-se, neste novo grupo, o saxofonista João Guimarães e o baterista Marcos Cavaleiro , músicos com quem Gonçalo Marques já trabalhou noutros contextos. Este grupo irá certamente dar origem a um registo discográfico em breve.

Gonçalo Marques é um músico com um sopro claro e nítido, imaginativo e abrangente. As suas composições são marcadas por uma consistência estética onde cabe a lassidão dos ritmos compassados, mas também a vertigem frenética e desenfreada das batidas rápidas.

«A confirmação de um músico e instrumentista fundamental na atual cena jazz portuguesa», foram as palavras com que o jornal Público recebeu o segundo álbum de Gonçalo Marques. O músico tem uma prova de fogo no programa da 17.ª edição do Festival Internacional SeixalJazz.

 

Após os dois primeiros registos discográficos, «Nebulosa» (2010) e «Partícula» (2012), o terceiro trabalho de Hugo Carvalhais foi o único registo português nomeado pela revista Down Beat entre os melhores álbuns de 2015.

«Grand Valis», uma edição da portuguesa Clean Feed, revela uma música difícil de classificar, obra de um compositor de grande invenção e originalidade que é simultaneamente um contrabaixista de excelência.

Neste terceiro disco, Carvalhais explora novos caminhos e conta com Gabriel Pinto e Dominique Pifarély, entre outros, dois dos músicos com que se apresenta no Seixal. O novo itinerário, simultaneamente futurista pela exploração eletrónica, mas também clássico pela utilização de uma sonoridade frequentemente acústica, explora moderadamente o som de cada instrumento, assim como o seu conjunto, para definir ambiências paisagísticas musicalmente inexploradas.

Inspirado pela trilogia «Valis», obra de ficção científica de Philip K. Dick, Hugo Carvalhais delineia uma música viva, com uma respiração própria, marcada pela indefinição e ambiguidade da cartografia sonora em que se espraia. Por não se definir claramente, esta música é sólida e etérea, intemporal e contemporânea, onírica e desperta, assente tanto em quem a faz, como em quem a ouve, questionando de igual modo passado e futuro. Uma música que coloca o Homem no centro da arte e a arte na definição do seu tempo.

 

Filho de um saxofonista, Ricardo Toscano cresceu a jogar à bola e a ouvir jazz. O jovem músico começou na banda da Sociedade Filarmónica Operária Amorense, onde aos 8 anos tocava clarinete, prosseguindo a instrução musical na Escola Profissional Metropolitana e na Escola de Jazz Luiz Villas-Boas onde aos 16 anos se iniciou no saxofone.

Considerado o melhor músico nacional em 2015, com apenas 22 anos, nesse ano esgotou duas datas na Culturgest e já em 2016 lotou o Centro Cultural de Belém. A celebração de um percurso que não se fez meramente de aprendizagem escolar, mas sobretudo de paixão pelo jazz, quando ainda pequeno o pai o familiarizou com discos de Cannonball Adderley em dueto com Bill Evans, Miles Davis ou John Coltrane.

Desde cedo Ricardo Toscano tomou consciência de que o seu futuro apontava para o jazz e para o fraseado ditado pelo saxofone. Começou a gravar o seu nome no panorama musical, ganhando visibilidade ao ladear Mário Laginha no ressuscitado Sexteto de Jazz de Lisboa, e tendo no currículo espetáculos no Estoril Jazz e no AngraJazz, atuações com o Sexteto de Lisboa, o Decateto de Nelson Cascais, o Mingus Project ou nas formações de Júlio Resende.

Ainda muito jovem, Toscano revisita a tradição hard bop, bebendo em Coltrane, Parker ou Ornette Coleman, período histórico do jazz que considera o mais estimulante.  No Seixal, surge acompanhado por músicos igualmente jovens, João Pedro Coelho, Romeu Tristão e João Pereira. Apaixonados pelo mesmo registo musical, equilibrado entre o reportório melodioso e a livre improvisação, o quarteto tem estabelecido a sua linguagem jazz e planeia gravar o seu primeiro registo discográfico.

 

Natural de Ann Arbor, no Michigan, Colin Stetson explora os domínios da livre improvisação e da música indie, com uma diversidade de caminhos que passam pelo dark metal, pós-rock e eletroacústica.

Explicar que gravou com Tom Waits, Arcade Fire, TV On The Radio, Laurie Anderson, The Chemical Brothers, Animal Collective, LCD Soundsystem, Bon Iver e The National, entre outros, é tão relevante como afirmar que, no SeixalJazz, Colin Stetson sobe ao palco sozinho. Discreto músico de estúdio, o saxofonista enche o palco a solo e é sempre a mesma e única pessoa.  

Em ambos os casos, o talento é esconder o intérprete e sobressair a interpretação. O segredo do seu estilo peculiar é a utilização de técnicas extensivas e explorações polifónicas de saxofones alto e baixo, apostando na criação de atmosferas únicas, assentes tanto na composição como na improvisação intuitiva. Para obter o efeito orquestral, conseguido por um só músico e o instrumento em que toca, o intérprete utiliza diferentes microfones em palco, conseguindo registar os diferentes sons da sua arte, que se perderiam com uma única fonte de amplificação.

Com mais de 20 anos de espetáculos a solo e somando vários volumes da série de discos New History Warfare, para além da coautoria com Sarah Neufeld da banda sonora do filme «Blue Caprice», Stetson recusa-se a definir a música que compõe e interpreta, vincada por uma vertente exploratória e jazzística, que renova e reinventa o formato rígido e tradicional com que se reconhece uma canção.

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